Travessias Capibaribe: projeto de arquitetura prevê pontes para unir dois pontos de Recife e reduzir desigualdades

Projeto “Recife Anfíbio” se inspirou em pensadores brasileiros e na valorização do mangue

Com extensão total de cerca de 280 km até sua foz na cidade, o Rio Capibaribe atravessa toda a cidade de Recife. Por isso atravessá-lo é algo extremamente necessário para os moradores no seu dia a dia. Mas mesmo sendo diretamente ligado à identidade da cidade e um atributo ambiental importante, para alguns bairros e comunidades, para muitos o Capibaribe acaba se tornando uma barreira, que impede o acesso a serviços ou a oportunidades de emprego que, muitas vezes, estão a uma travessia de distância. Por esse motivo nasceu o Travessias Capibaribe – Concurso Nacional de Passarelas no Recife, que escolheu o melhor projeto arquitetônico para a construção de duas passarelas de pedestres e modais de mobilidade ativa, como bicicletas. Uma ligará a Praça Antônio Maria, localizada no bairro de Santana, e a Rua Marcos André, na Torre. E a outra será construída entre a Rua Marcos André, na Torre, e a Rua Malaquias, nas Graças, Zona Norte da cidade.

O concurso – realizado no segundo semestre deste ano – foi viabilizado pela Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES) junto ao projeto CITinova, em parceria com a Prefeitura do Recife e o Núcleo de Gestão do Porto Digital. O processo de seleção recebeu, ao todo, 49 inscrições de 10 estados brasileiros. E em novembro foi apresentada a proposta vencedora: o projeto “Recife Anfíbio”, da JW Urbana Arquitetura e Urbanismo, que se inspirou em pensadores brasileiros e na valorização do mangue.

As passarelas do Recife Anfíbio estão alinhadas ao Plano Recife 500 Anos e integram o Projeto Parque Capibaribe, que visam desenvolver o Recife na direção de se tornar uma Cidade-Parque sob o horizonte temporal de 2037, quando a capital pernambucana irá comemorar cinco séculos de história. Atendem, também, a Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, como ODS 11 (Cidades e comunidades sustentáveis).

Recife

O projeto vencedor tem um propósito muito maior do que unir dois lados separados pelo Capiberibe. Pretende aumentar a conexão da população com o ribeirão, reduzir distâncias e diminuir a desigualdade social.

O conceito-chave da proposta ganhadora, que possui equipes no Recife e em São Paulo, tem influência direta do pensador recifense Josué de Castro, que teorizou sobre a importância do Rio Capibaribe para a cidade. Mas as referências não param por aí: Gerusa Leal, Chico Science & Nação Zumbi, João Cabral de Melo Neto e o único não Recifense João Guimarães Rosa – que, em Grande Sertões Veredas, destaca a importância da travessia em si e do que se realiza através dela -, estão entre as inspirações do projeto. Inclui-se aqui também o potencial do Mangue e sua ocupação como uma vivência diferente. A promessa é transformar a ponte num passeio memorável que irá conectar a cidade em diferentes realidades, estimulando a mobilidade ativa.

O foco da transformação está nas pessoas. Por isso é importante ressaltar, também, que no processo de desenvolvimento do projeto executivo das passarelas estão previstos encontros com a comunidade como forma de convite à participação no projeto para proporcionar um momento de escuta e co-criação.

Premiação

No início de novembro (8), no Jardim Baobá, na capital pernambucana, ocorreu a premiação do Travessias Capiberibe. O escritório de arquitetura vencedor do projeto JW Urbana Arquitetura e Urbanismo teve como premiação um contrato assinado pela Prefeitura do Recife no valor de R$ 1.034.880,00 – que inclui a premiação no valor de R$ 51.744,00 e a realização do Projeto Executivo, previsto para ser entregue no primeiro semestre de 2023.

Também foram premiados o escritório Arquitetura Faz Bem, que recebeu R$ 30 mil pela segunda colocação no concurso, e o Escritório Z, que recebeu R$ 20 mil pela terceira colocação. Ambos os escritórios são sediados no Recife.

*Foto de capa: Grinaldo Gadelha Jr

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