Projeto “Recife Anfíbio” vence concurso de passarelas financiado pelo CITinova

O Travessias Capiberibe recebeu 49 inscrições de 10 estados brasileiros; proposta vencedora se inspirou em pensadores brasileiros e na valorização do mangue

No dia 8 de novembro, no Jardim Baobá, na capital pernambucana, ocorreu a premiação do Travessias Capiberibe – Concurso Nacional de Passarelas do Recife, realizado pela Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES) – parceira coexecutora do CITinova –, em parceria com a Prefeitura do Recife e do Núcleo do Porto Digital. 

O vencedor do concurso foi o projeto “Recife Anfíbio”, da JW Urbana Arquitetura e Urbanismo Ltda, escolhido por uma comissão julgadora formada por arquitetos e engenheiros indicados pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, pela Prefeitura do Recife e pela ARIES. No total, foram recebidas 49 propostas de 10 estados brasileiros e do Distrito Federal.

O concurso teve como objetivo selecionar um projeto arquitetônico para a construção de duas passarelas de pedestres. Uma ligará a Praça Antônio Maria, localizada no bairro de Santana, e a Rua Marcos André, na Torre. E a outra será construída entre a Rua Marcos André, na Torre, e a Rua Malaquias, nas Graças.

O conceito-chave da proposta ganhadora, que possui equipes no Recife e em São Paulo, tem influência direta do pensador recifense Josué de Castro, que teorizou sobre a importância do Rio Capibaribe para a cidade. Mas as referências não param por aí: Gerusa Leal, Chico Science & Nação Zumbi e João Cabral de Melo Neto são outros autores pernambucanos citados no projeto.

Em entrevista exclusiva ao CITinova, as arquitetas Lígia Rocha e Catarina Lacerda, explicam como as reflexões deixadas por esses intelectuais foram basilares no processo criativo: “Com as reflexões que destacamos desses autores buscamos resgatar para a nossa proposta a relevância cultural, histórica, social e a memória do Rio Capibaribe, mangue e lama na cidade do Recife. Esses elementos naturais são muito presentes na paisagem da cidade e acreditamos que devem ser o verdadeiro destaque da intervenção”.

Além deles, a equipe também destacou uma ideia presente na obra de João Guimarães Rosa – o único não nascido no Recife: “Foi importante trazer João Guimarães Rosa, em ‘Grande Sertão: Veredas’, uma vez que, tal qual o livro, o nosso projeto destaca a importância da travessia em si e do que se realiza através dela”.

Outra fonte de inspiração foi o próprio mangue, ecossistema típico da cidade do Recife, como mostra a prancha síntese: “Durante nossas reuniões no processo de desenvolvimento da proposta falamos muitas vezes de como o mangue é potente, de como ele abraça a lama com suas grandes raízes, sobre a inconstância de sua forma e dinamismo. E essa é a sensação que queremos passar para os usuários: de um ambiente acolhedor com acessos atraentes, convidativos, e de um passeio simples mas nem um pouco monótono”.

Como premiação, a Prefeitura do Recife assinou um contrato com a JW Arquitetura no valor de R$ 1.034.880,00 – que inclui a premiação no valor de R$ 51.744,00 e a realização do Projeto Executivo, previsto para ser entregue no primeiro semestre de 2023.

“É fundamental ressaltar que no processo de desenvolvimento do projeto executivo das passarelas estão previstos encontros com a comunidade como forma de convite à participação no projeto e estamos ansiosas para esse momento de escuta e co-criação”, ressaltam as arquitetas.

Também foram premiados o escritório Arquitetura Faz Bem, que recebeu R$ 30 mil pela segunda colocação no concurso, e o Escritório Z, que recebeu R$ 20 mil pela terceira colocação. Ambos os escritórios são sediados no Recife.

As passarelas se inserem no Plano Recife 500 anos e no Projeto Parque Capiberibe, que pretendem transformar Recife em uma Cidade-Parque até 2037, quando a capital pernambucana irá comemorar cinco séculos de história. 

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