Atuação do CITinova no DF se aproxima do fim, mas ações prometem reverberar por vários anos

No Distrito Federal, o CITinova apoiou a implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), o diagnóstico para a desativação do maior lixão da América Latina e o plantio de mudas nativas para preservação das bacias hidrográficas que abastecem a capital federal

Há cinco anos, no dia 16 de janeiro de 2017, o Distrito Federal iniciava um racionamento de água para conter uma das maiores crises hídricas de sua história. Foram 17 meses nos quais os moradores – principalmente os das cidades satélites, fora do Plano Piloto – conviveram com restrição no consumo de água.

Nessa época, além disso, a capital federal precisava lidar com um passivo ambiental que se acumulava desde meados da década de 1960: um depósito de resíduos a céu aberto, ocupando uma área de 200 hectares limítrofes ao Parque Nacional de Brasília. O Lixão da Estrutural, até então o maior da América Latina, recebia cerca de 2,2 toneladas de rejeitos por dia e era fonte de recurso para cerca de 2 mil catadores de recicláveis.

A busca de soluções inovadores para esses problemas foi o que motivou o apoio do projeto CITinova, criado em 2018 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a iniciativas executadas pela Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) do Distrito Federal nos últimos cinco anos.

Sistemas Agroflorestais

“Eu fico muito contente quando a pessoa chega e conta como fez [determinado alimento], qual foi a receita. Tudo isso eu entendo que é uma rede que ajuda a gente a manter esse trabalho de agricultura agroecológica, para alimentar essas famílias”, afirma a agricultora Gedilene Lustosa Gomes de Almeida.

Moradora do CAUB (Conglomerado Urbano de Brasília) I, no Riacho Fundo II, Almeida é uma das dezenas de famílias apoiadas pelo projeto que promoveu a implementação dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) próximas às Bacias do Paranoá e Descoberto.

Essas famílias receberam diversas máquinas que viabilizaram a produção agroecológica, como a subsoladora com enxada rotativa, que prepara os canteiros para o plantio; e a ceifadeira-enleiladeira, que ceifa e enleira o capim para manter o solo coberto; e o podador de altura, que facilita a elevação do operador da motosserra ou da tesoura hidráulica para fazer a poda das árvores em altura.

Para a agricultora Gizelma Fernandes de Assis, parceira da Almeida, esses equipamentos foram ainda mais potencializados com o curso de formação sobre as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA).

“Não adianta a gente plantar e não ter como escoar a produção. Então casou muito bem a agrofloresta com a formação da CSA, porque a gente passou a ter vontade de plantar  tendo certeza de um retorno. Então esse trabalho da agrofloresta com a CSA está sendo muito importante”, relata Assis.

A CSA é um modelo de um trabalho que une produtores de alimentos orgânicos e consumidores, chamados de co-agricultores, por meio de uma cota fixa mensal. Além de apoiar a agricultura familiar, os co-agricultores recebem uma caixa de produtos agrícolas, entre frutas, verduras e legumes. Os produtos são selecionados de acordo com a estação e a safra, respeitando os tempos da natureza e também do produtor.

Proteção das bacias hidrográficas

O incentivo à implementação de agrofloresta nunca foi uma iniciativa isolada, mas sempre esteve inserido em um plano de longo prazo para criar soluções à crise hídrica que começou a assolar o Distrito Federal a partir de 2016. Essa é a visão da coordenadora executiva do projeto CITinova dentro da SEMA, Nazaré Soares.

“A necessidade do CITinova no Distrito Federal foi associada principalmente à questão da crise hídrica, que Brasília viveu em 2016. A partir daí, nós fizemos todo um planejamento de forma que as entregas dos projetos viessem a responder, principalmente, às questões relacionadas ao planejamento integrado, à segurança hídrica e ao enfrentamento às mudanças do clima aqui no Distrito Federal”, aponta Soares.

A partir desse pressuposto, surgiu a proposta de plantio de mudas de árvores nativas do Cerrado nas bacias do Descoberto e do Paranoá. Foram mais de 70 mil mudas espalhadas em 72 pequenas propriedades rurais, além de áreas dos parques ecológicos do Riacho Fundo e Águas Claras.

Para isso, a Sema realizou um diagnóstico nas bacias hidrográficas utilizando uma metodologia com análise multicritério, que identificou as áreas com média, alta e muito alta prioridades para restauração. Foram mapeados 91 mil hectares que necessitam de restauração.

O fim de um lixão

Cidades sustentáveis e inovadoras são aquelas que apontam não para ações isoladas, mas para políticas públicas que estejam inseridas dentro de um planejamento urbano integrado. Por isso, o incentivo à produção agroecológica e a recuperação da floresta nativa das bacias hidrográficas não poderiam coexistir com o maior lixão a céu aberto da América Latina.

“Em 2015, aproximadamente, o Distrito Federal definiu como um dos seus grandes programas o fechamento do Lixão da Estrutural. Dali em diante foram traçadas várias metas e ações prioritárias para o Estado, não apenas como um projeto de governo. Foi determinado o fechamento do lixão, a construção de um aterro sanitário e também a inclusão socioprodutiva dos catadores que atuavam no local”, recorda o coordenador de Resíduos Sólidos da Sema, Glauco Cruz.

O diagnóstico apoiado pelo CITinova não apenas viabilizou o fechamento do Lixão da Estrutural, como também possibilitou que se tratasse caminhos para o futuro da área. “Dentre as possíveis soluções estão a própria utilização urbana da cidade, a geração de energia e a manutenção da instalação que já está lá hoje, com o recebimento e aterramento de resíduos da construção civil. Atualmente, o Serviço de Limpeza Urbana está contratando um estudo de gerenciamento de áreas contaminadas, que é um dos encaminhamentos finais do nosso projeto”, explica Cruz.

Futuro

Após quase cinco anos, a atuação do CITinova no Distrito chegará ao fim, pelo menos temporariamente, no próximo mês de abril. Apesar disso, as ações apoiadas pelo projeto tendem a reverberar por muitos anos nas cidades, com impactos reais na vida das pessoas. Essa é a perspectiva da subsecretária de Assuntos Estratégicos da SEMA, Márcia Fernandes Coura: “O projeto encerra agora em abril, mas como algumas ações poderão ter continuidade? A nossa perspectiva é de que essas ações de mobilização social e do comitê local auxiliem na permeabilização dessas informações e ações para dar uma continuidade pós projeto. É um momento que vai ser muito rico para dar esse fomento às ações”.

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